sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A intemporalidade do Tempo...

O tempo perguntou ao tempo, quanto tempo o tempo tem. O tempo respondeu ao tempo, que o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem.

Esta ‘lengalenga’ que à primeira vista pode ser um pouco confusa, encerra também uma mensagem bastante importante, e que convém reter. Que o tempo não tem tempo! Embora o tempo possa ser medido em segundos, horas, dias, anos, e esta medida seja universal, a verdade é que o tempo afecta cada um de nós de forma diferente, e sentimos a sua passagem de forma bem distinta. O que para uns é muito tempo, para outros não o é. Quem nunca teve a sensação de saber que vai de férias e que é a ultima semana, e esta parece que se arrasta vagarosamente, quase ridicularizando o nosso desejo de descanso. E depois aqueles 15 dias de férias passaram por nós tão rápido que nem damos pelo tempo. Mas a verdade é que o tempo não é diferente, e os dias tiveram as mesmas 24h. Muitas vezes, essa sensação de ‘tempo lento’ ou ‘tempo rápido’, está unicamente relacionado com a forma como nós o aproveitamos.

Quantas vezes não andamos a correr a tentar fazer tudo, e inconscientemente a ‘acelerar’ o nosso tempo, chegando ao ponto de pensarmos que já não temos tempo para nada?! Quantas vezes não estamos numa letargia tal, seja esta física ou mental, que o tempo parece estagnado e começa a pesar-nos nos ombros e sentimos aquela necessidade de fazer algo útil e proveitoso?! Quantas vezes não estamos naquele estado perfeito, em plena harmonia connosco e com tudo o que nos rodeia e temos aquela sensação magnifica que se o tempo parasse e não mais avançasse, seriamos eternamente felizes?!

Mas o tempo não pára, nem o conseguimos parar, nem por um milésimo de segundo sequer... o tempo passa por nós impiedosamente e sem nos perguntar se assim o queremos, o tempo passa por nós e vai deixando a sua marca, positiva ou negativa, consoante a mural que consigamos tirar da experiência vivida. Poderia quase arriscar a dizer que, mais do que outra coisa qualquer, o factor psicológico é o que nos faz sentir a passagem do tempo de forma tão diversificada. Um adulto que perdeu alguém querido quando ainda era um adolescente, podem passar 20 anos (que na nossa ‘medida do tempo’ já é muito tempo) e vai sempre sentir como se a perda tivesse sido ontem. Mesmo que alguém nos diga que é muito tempo a verdade é que só nós é que sabemos o que nos vai na alma.

Na época em que vivemos, na sociedade em que vivemos, é-nos cada vez mais difícil cultivar o culto de ‘tempo bem aproveitado’. O nosso dia a dia, o nosso trabalho, as nossas rotinas, tudo isto nos impele a vivermos a nossa vida a um ritmo alucinante, não conseguindo na grande maioria usufruir deste para nosso gáudio e belo prazer. O tempo passa por nós, e a cada dia que passa temos uma certeza cada vez maior: que o tempo não volta atrás e que ficamos mais velhos a todos os segundos que passam. Começamos então, inevitavelmente, a pensar que o nosso tempo neste planeta é finito e que é uma grande incógnita quando chegará esse término.

Mas e se, por um acaso qualquer, soubéssemos quanto mais tempo teríamos de vida. Iria isso afectar todo o nosso comportamento, todas as nossas decisões, toda a nossa forma de pensar, toda a nossa vida. Iríamos nós tentar experimentar tudo, ver tudo, sentir tudo, o mais rapidamente possível, mesmo sabendo que o nosso tempo só terminaria daí a muitos e muitos anos?! Iríamos nós cair numa apatia avassaladora, apenas porque sabíamos quando seria o dia do ‘juízo final’?! Ou iríamos nós continuar com a nossa vida tranquilamente, aproveitando tudo o que o tempo nos traz, aproveitar todos os momentos de uma forma mais racional, outros de uma forma mais emotiva?! Saberíamos nós gerir o nosso tempo se soubéssemos quando ele acaba?!

Talvez o que mais nos assusta com o passar do tempo é mesmo o sabermos que este acaba, e deixar coisas por fazer ou por dizer. Sinceramente pensar nisto, faz-me também repensar na forma como tenho passado a minha vida, a forma como encaro o meu futuro, cria-me de alguma maneira um receio, quase um medo, de morrer e não ter feito tudo o que devia, não ter já tempo de reparar algum erro da minha vida, nunca mais ver as pessoas que amo, e saber que deixarei por cá pessoas a sentirem falta da minha presença.

Eu sempre ouvi dizer que a nossa vida inteira nos passa diante dos olhos no segundo antes de morrermos. Mas eu quero acreditar que esse segundo não é um segundo apenas, mas que ele se expande para sempre, como um oceano de tempo. Para mim pode ser os momentos que passei a brincar com a minha cadela, para outra pessoa pode ser as gargalhadas que deu com os filhos, para ti pode ter sido aquele beijo ou abraço que nunca esqueceste. A verdade é que com tanto tempo que passamos neste planeta é difícil ficarmos chateados com alguma coisa, quando existe tanta Beleza nele. Às vezes sinto que estou a desperdiçar o meu tempo, ou que estou a gastá-lo depressa demais… mas depois lembro-me de relaxar, e de não o tentar agarrar, aprisionar, e é nessa altura que ele corre através de mim como a chuva, e eu sinto apenas gratidão por poder viver cada segundo, cada momento, cada dia, por mais estúpido que seja, da minha pequena e longa vida.

3 comentários:

  1. e perdes-te tu tempo a escrever isto...

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  2. Tudo tem o seu tempo, e o melhor é vive-lo o melhor que sabemos e tentar não deixar nada por viver. Aproveita a vida e vive!

    Gostei do teu blogue!

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  3. Obrigado Sisa.. :)

    sem duvida nenhuma que a melhor forma de viver a vida é aproveitando o que ela nos oferece, da forma que conseguirmos e como acharmos melhor! :)


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    para o/a Anónimo/a:

    como disse logo no meu primeiro post, é bastante fácil uma pessoa esconder-se atras de um anonimato e dizermos o que pensamos e o que queremos.. bem mais dificl é mostrar a cara quando o fazemos! o que para ti foi perder tempo, para mim nao foi perder nem ganhar, foi apenas aproveitar o meu tempo a fazer algo que gosto.. tens todo o direito em dizer que não gostas do que escrevo, é uma liberdade que ainda temos, e por isso, agradeço-te o facto de o teres lido.. quem sabe se mesmo inconscientemente o texto não te comece a fazer mais sentido e até aproveites o teu tempo de forma diferente.. :)

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